Parte 4
Quando Isaías estava com cerca de dez ou doze anos, um monarca assírio, ao qual os hebreus chamavam de Pul, “veio contra a terra, e tiveram que ser subornados com mil talentos de prata (2 Rs 15.19). Cerca de vinte anos depois, em 745 a.C., um monarca mais poderoso, Tiglate-Pileser II, subiu ao trono da Assíria, quando Isaías estava com mais ou menos trinta ou trinta e cinco anos. Tal monarca iniciou imediatamente um reinado de conquistas, o que provocou alarme entre todas as demais nações vizinhas. Em Damasco, percebeu-se que o novo inimigo somente poderia ser combatido por uma confederação de pequenas nações, as quais dividiam entre si a região Siro-palestina. Desta forma, um esforço foi feito para unir os reis dessas nações, sob a presidência de Resim de Damasco. Entretanto, o rei de Judá, Acaz, se recusou a fazer aliança com os demais monarcas. Em função de uma visão política estreita que o impedia de ver com clareza a gravidade da situação, Acaz pensou que os seus próprios interesses seriam desrespeitados pela Síria e por Israel, nações que eram, geralmente, hostis a Judá. Assim, imediatamente, Judá fechou suas fronteiras e, como conseqüência de sua recusa em fazer parte da aliança, houve uma tentativa de depô-lo, colocando em seu lugar um príncipe que adotaria apolítica Síria. Rezim de Damasco e Peca de Samaria atacaram Judá em diferentes frentes e infligiram severas derrotas ao Reino do Sul (2 Cr 28.5-6). Eles, então, marcharam para Jerusalém e sitiaram a cidade (2 Rs 16.5). Diante de tais circunstâncias, Acaz colocou-se sob proteção do rei dos assírios, declarando-se seu servo e, humildemente, implorou por sua ajuda. Piglate-Pileser atendeu prontamente à solicitação de Acaz e, marchou com um grande exército contra a Síria, conquistou Damasco, passou Rezim ao fio da espada, venceu Peca e levou uma grande porção dos israelitas para o cativeiro (2 Rs 15.29). Acaz apresentou-se, então, pessoalmente, a Tiglate-Pileser, em Damasco, e prestou-lhe honras, passando Judá, daí em diante, a ser um estado vassalo, pagando tributos à Assíria.
A tremenda derrota, imposta ao Reino de Israel por Tiglate-Pileser, foi logo a seguir acompanhada de uma maior e mais severa calamidade. Em 724 a.C., quando Isaías estava com, aproximadamente, cinqüenta e cinco anos, Salmanasar V, filho e sucessor de Tiglate-Pileser, determinou a aniquilação dos últimos vestígios do Reino do Norte, marchando contra Samaria e sitiando a cidade. Embora Samaria fosse uma cidade bem fortificada, tendo resistido a três anos de assalto, finalmente, em 722 a.C., capitulou, caindo definitivamente nas mãos do inimigo, justamente no ano em que Sargão II se apoderou do trono assírio, depois da morte de Salmanasar. Embora Sargão se vanglorie de ter tomado Samaria, as Escrituras atribuem a Salmanasar a tomada daquela cidade. Entretanto, o fato que permanece como certo é que, após a queda de Samaria, milhares de cidadãos israelitas — 27.290 de acordo com Sargão — foram deportados para a Alta e para a Média Mesopotâmia, e, finalmente, desapareceram do cenário da história.
Judá estava, agora, isolada e sem vizinhos, tornando-se, evidentemente, a próxima nação sobre a qual o peso do exército assírio iria cair. A submissão e subserviência de Acaz à Assíria, durante todo o seu reinado (2 Rs 16:10-18), haviam, é verdade, ajudado a defender Judá nos dias difíceis. Além disso, a Assíria estivera muito ocupada com as revoltas que explodiam nos países conquistados, bem como com as sua próprias disputas internas. Contudo, em 727 a.C., morreu Acaz, e assumiu o poder o Rei Ezequias, o qual tinha uma linha política mais arrojada. Assim, Ezequias “rebelou-se contra o Rei da Assíria e não o serviu” (2 Rs 18:7).
Nessa rebelião, certamente, Ezequias teve o encorajamento e o apoio de Isaías, o qual sempre exortava seus compatriotas a não temerem os assírios (10:24 e 37:6). O conselho do profeta era que nenhuma aliança com estrangeiros deveria ser feita, posto que Judá devia, isto sim, colocar-se na inteira dependência de Jehovah, o qual protegeria o seu povo e derrotaria os assírios, caso eles tentassem um ataque. Ezequias, entretanto, tinha outros conselheiros, homens com diferentes pensamentos políticos tais como Sebna, o secretário real, e Eliakim, o primeiro-ministro, para os quais a fé do profeta não passava de tolice e fanatismo ( 22:15-25. Isaías declara que Sebna, que era primeiro-ministro na época, seria destituído do cargo, ignominiosamente, e substituído por Eliakim. Entre o tempo em que essa declaração foi feita e os acontecimentos de 2 Rs 18:17 e 19:37, aparentemente houve uma reorganização do Conselho de ministros, na qual Sebna fora removido e exilado, como havia profetizado Isaías.). As regras de sabedoria comumente aceitas diziam-lhes que era melhor uma aliança com alguma outra nação poderosa, através da qual Judá asseguraria a assistência de um forte corpo de auxiliares, caso sua independência fosse ameaçada. Desta forma, dentro do horizonte político da época, a única potência que podia se rivalizar com a Assíria era o Egito, o qual era também uma monarquia organizada, com uma grande população e um exército bem treinado. Neste sentido, o exército egípcio era especialmente forte, justamente, no fundamento em que Judá era mais fraco, ou seja, na quantidade de cavalos e carros de combate. Além disso, havia a Etiópia, a qual, veladamente, nos bastidores, era aliada do Egito, exercendo uma espécie de suserania em relação ao país dos faraós. Assim, a Etiópia possuía recursos, os quais, em caso de necessidade, podiam ser utilizados pelo Egito.
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