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25 de jul. de 2007

A História de Balaão


O EPISÓDIO DE BALAÃO — Num 22:2 - 25:18
Os capítulos anteriores do Livro de Números nos mostram os israelitas atacados, mas sempre vitoriosos. Todavia, agora, surge da parte dos inimigos uma nova tática como a precaver o crente das ciladas que o inimigo lhe pode também armar, muitas vezes através de um outro crente para esse fim industriado. Aqueles que durante certo tempo pareciam seguir o Senhor e até dele dar testemunho são frequentemente procurados por Satanás para agirem no mesmo sentido. Reparem na responsabilidade, que cabe aos que se dizem filhos de Deus, de nunca deixar que a sua influência seja usada contra um testemunho fiel à verdade!
No presente caso, a tentativa falhou, evidentemente, pois foi manifesta a intervenção sobrenatural do Senhor. Vacilou a princípio Balaão, e estava pronto para entregar-se, mas Deus estava com ele para o guardar e assim provar que nada impediria os Filhos de Israel de entrarem na Terra Prometida.
Conhecedor das derrotas infligidas pelos israelitas a quantos os atacaram, procurou o rei de Moabe um processo indireto de os destruir. Começou por chamar os anciãos dos midianitas, pois Moabe e Mídia eram aliados, nesse período. Moabe era possuidor do território ao sul dos acampamentos dos israelitas bem como era uma nação estável.
Como os midianitas eram um povo nômade, talvez o próprio Balaque fosse também midianita, embora fosse o rei dos moabitas.
Não se conhecem alusões anteriores à figura de Balaão, a quem a Bíblia daqui em diante apresenta como prestan¬do culto ao Senhor, apesar de não per-tencer à família de Israel. Contudo, no dizer de Pedro a Cornélio (At. 10:35), Deus não distingue os homens pelo país a que pertencem, ouvindo todo aquele que O teme e fazendo o que é justo. Deve-se notar ainda que, se por vezes Balaão se refere a Deus servindo-se deste mesmo vocábulo "Deus", o qual podia aplicar-se a qualquer divindade, não raro ele recorre ao nome especial e característico do Deus da Aliança de Israel, conhecido simplesmente por "Senhor".
Muito se tem discutido a propósito da aplicação a Balaão da designação de verdadeiro "profeta". Diga-se, antes de mais nada, que tudo depende do sentido que atribuirmos a este termo. Assim, a Bíblia não indica uma ocupação ou missão permanente, mas apenas um indivíduo através do qual é concedida uma mensagem. Deus pode, na realidade, servir-se de um profeta apenas temporariamente, substituindo-o mais tarde por outro, de tal sorte que nem todas as suas palavras são inspiradas. Quando Davi disse ao profeta Natã ser do seu agrado construir um templo em honra ao Senhor, respondeu-lhe este: "Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo" (II Sam. 7: 1-3). No dia seguinte, todavia, numa nova mensagem, declarou que só ao des¬cendente de Davi caberia essa honra da construção do Templo (II Sam. 7:4-16). Reparem que Natã era, normalmente, instrumento do Senhor nas Suas mensagens ao povo, mas desta vez ele se serviu apenas das suas faculdades intelectuais para dizer a Davi que o Senhor abençoaria os seus planos relativos à construção do templo, e falhou completamente, pelo que Deus o obrigou a corrigir a afirmação. Como não se duvida que os caps. 23-24 contêm mensagens concedidas por revelação direta de Deus através de Balaão, é certo que era o próprio Deus quem falava pela boca de Balaão, sendo, portanto, em toda a acepção da palavra, um verdadeiro profeta. Isso não significa, porém, que fosse um homem perfeito. Ao contrário, Balaão cometeu vários pecados graves, tal como sucedeu com outros profetas.
Balaque conhecia perfeitamente a capacidade de Balaão. Disse-lhe saber que
todo aquele a quem Balaão abençoasse seria abençoado, e amaldiçoado aquele a quem amaldiçoasse. Não se tratava de qualquer poder mágico, segundo a Bíblia. Apenas Balaque supunha que Balaão fosse dotado desse poder. O próprio Balaão não se arrogava disso, insistindo somente que poderia abençoar aqueles a quem o Senhor abençoasse e amaldiçoar aqueles a quem o Senhor amaldiçoasse.
Mais prudente que Natã, parece Balaão, no episódio acima narrado, em presença das recompensas apresentadas pelos anciãos midianitas, disse-lhes que a resposta apenas seria dada depois de consultar o Senhor.
Quem são estes homens? Isso não quer dizer que o Senhor não soubesse quem eles eram. É que Deus quer que, quando nos dirigimos a Ele, nos possamos manter em estreita comunhão com o Senhor Supremo, exprimindo claramente as nossas idéias. Por vezes, resolvemos um problema apenas em face duma exposição clara.
Quando Balaque ouviu dizer que Balaão recusava aceder ao seu pedido, pensou não ter sido suficiente o primeiro presente enviado. Mas ainda o levou a pensar assim, quando por fim Balaão foi ao seu encontro, sem se lembrar, todavia, que as circunstâncias se tinham modificado completamente, ao chegar a nova embaixada de mensageiros. À primeira embaixada foi-lhe respondido que antes convinha consultar o Senhor. Agora, ele já sabia qual era a vontade do mesmo Senhor. Em princípio, devia recusar o pedido por não haver nada de novo para modificar a primeira resposta. Mas, em vez de seguir a vontade de Deus, que já conhecia, Balaão declarou novamente que iria procurar saber qual a opinião do Senhor a tal respeito. Em si, era um ato de desconfiança, porque, uma vez conhecida a Sua vontade, não há necessidade de proceder a novas consultas. O indispensável é obedecer sem perguntas e sem demoras. Mas o procedimento de Balaão foi devido à tentação dos ricos presentes, que desta vez o cativaram, oferecidos pelos homens. Como devemos ser cuidadosos em antepor a vontade do Senhor a tudo quanto seja a satisfação dos nossos interesses?!! Diz-se do Povo no deserto, que "Deus satisfez-lhes os desejos, mas fez definhar as suas almas" (Sal. 106:15). Em vez de repetir o que Balaão já conhecia de antemão, Deus aparentemente cedeu à vontade de Balaão: "Se aqueles homens te vierem chamar, levanta-te, vai com eles; todavia, farás o que eu te disser" (v.20). Ê essa a atitude de muitos cristãos que se deixam seduzir por falsas considerações! Fazem aquilo que sabem ser contrário à vontade de Deus, julgando continuar fiéis aos compromissos para com Ele. Mas, em geral, falham essas intenções, porque Deus não se contenta com a obediência pela metade. No nosso caso, Balaão levava a cabo a sua empresa, mas o poder sobrenatural de Deus teve mais força que as suas intenções, não se concretizando o que julgara ser de mais utilidade.
Já notamos que a segunda resposta do Senhor a Balaão não foi completa, por visar apenas à falta de confiança na palavra de Deus, quando a Sua divina vontade já era conhecida. Esta conclusão é confirmada pelo que narra o v.22: "E a ira de Deus acendeu-se, porque ele se ia, e o anjo do Senhor pôs-lhe no caminho por adversário".
Deus desejava impressionar Balaão que só devia transmitir as Suas divinas mensagens. Não devia, portanto, desobedecer naquele pormenor de ir, pois dava a entender que podia ir mais além e desobedecer na mensagem do Senhor. Muitos se tornam assim instrumento precioso nas mãos de Satanás, quando partem para um empreendimento com intenções boas. Desta vez, porém, fez-lhe sentir uma intervenção miraculosa de Deus a fortalecer o profeta vacilante, por ser indispensável, conforme aos Seus desígnios, para levar a bom termo o plano da entrada dos israelitas em Canaã. Convinha, pois, que não viesse prejudicar tal plano a fraqueza do profeta.
Segue-se o episódio da jumenta, que, embora sem par na Bíblia, não pode supor-se como mero sonho, parábola ou visão. Se a Palavra de Deus o relata, não pode haver dúvidas para o crente de que na realidade sucedeu. A Bíblia não é um livro comparado ao das fábulas de Esopo ou de La Fontaíne em que os animais aparecem a falar, como se fossem seres humanos. Tais casos não são vulgares nas Escrituras, se excetuarmos o da serpente (Gên. 3) por cuja boca falou Satanás. Ora, se Satanás teve poder para fazer falar uma serpente, por que não daria Deus fala a uma jumenta, se assim o entendesse? Não se faz alusão ao processo de que Deus se serviu para tal efeito. O certo é que Balaão ouviu distintamente uma voz que partia do animal.
Este fato associado às palavras do anjo do Senhor devem ter impressionado profundamente o espírito de Balaão, de forma a impedi-lo de realizar o seu objetivo, não obstante as tentadoras promessas de Balaque. Assim, Deus intervinha, diretamente, num caso de importância extraordinária no plano da Redenção. Os cristãos dos nossos dias, de certo, não esperam milagres deste gênero, em casos de fraqueza ou descrença, como no de Balaão, devendo, no entanto, aprender a viver em constante conformidade com a vontade de Deus, revelada na Sua Palavra, sempre cônscios da presença divina, sem necessidade de O ver com os olhos carnais.
Ao deparar com Balaão, assim se exprimiu Balaque: "Não posso eu na ver-dade honrar-te? (37). Falava como homem do mundo; não como homem de Deus. Mas a resposta foi-lhe dada num termo completamente diferente: "A palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei" (38). Sem dúvida Balaque considerava esta resposta como uma réplica cheia de hipocrisia, pois não correspondia ao fato de Balaão ter comparecido. Balaque matou bois e ovelhas, e as enviou a Balaão e aos príncipes que estavam com ele (40). O termo zabah, aqui traduzido por "matou", como em Deut. 12:15, 21; I Sam. 28:24; II Cr. 18:2, nem sempre implica sacrifício. A simples idéia é de que Balaque ofereceu um grande banquete para celebrar a vin¬da de Balaão.
Por quatro vezes Balaão anunciou a palavra de Deus numa mensagem especial, embora perdesse a oportunidade de conseguir os ricos presentes que Balaque lhe oferecia para amaldiçoar Israel. Depois de cada um dos dois primeiros casos, Balaque utilizou todos os estratagemas para conduzir Balaão ao objetivo em vista. Sempre, no entanto, replicava Balaão que nada teria a acrescentar à opinião proferida pelo Senhor. Só após a terceira vez, Balaque mandou que Balaão desistisse, não atendendo nem à bênção, nem à maldção de Israel. Balaão continuou as suas mensagens, não só abençoando Israel, mas referindo-se ao destino do povo de Balaque nas mãos dos israelitas.

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