13 de ago. de 2007
Considerações no Livro do Profeta Isaías
Parte 18
Na Parte I, Jerusalém é representada por um lugar desolado e está sentada no pó — (3:26) As suas portas chorarão e estarão de luto; Sião, desolada, se assentará em terra. — Na Parte III, ela é exortada a se levantar da terra e a tirar de si o pó — (52:2) Sacode-te do pó, levanta-te e toma assento, ó Jerusalém; solta-te das cadeias de teu pescoço, ó cativa filha de Sião. Similarmente, Israel, na Parte I, é “uma floresta onde não há água” — (1:30) Porque sereis como o carvalho, cujas folhas murcham, e como a floresta que não tem água. — ou uma vinha na qual as nuvens receberam ordem de não chover — (5:6) torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. — Porém, na Parte III, a promessa é no sentido de que Israel será como um jardim regado e como um manancial — (58:11) O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos e fortificará os teus ossos; serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas jamais faltam.
Deus condenou Israel, na Parte I, por suas iniqüidades — (5:5-7) Agora, pois, vos farei saber o que pretendo fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada; torná-la-ei em deserto. Não será podada, nem sachada, mas crescerão nela espinheiros e abrolhos; às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do Senhor; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. — Como também em — (32:10-14) Porque daqui a um ano e dias vireis a tremer, ó mulheres que estais confiantes, porque a vindima se acabará, e não haverá colheita. Tremei, mulheres que viveis despreocupadamente; turbai-vos, vós que estais confiantes. Despi-vos, e ponde-vos desnudas, e cingi com panos de saco os lombos. Batei no peito por causa dos campos aprazíveis e por causa das vinhas frutíferas. Sobre a terra do meu povo virão espinheiros e abrolhos, como também sobre todas as casas onde há alegria, na cidade que exulta. O palácio será abandonado, a cidade populosa ficará deserta; Ofel e a torre da guarda servirão de cavernas para sempre, folga para os jumentos selvagens e pastos para os rebanhos. Todavia, na Parte III, a promessa feita é — (62:4-12) Nunca mais te chamarão Desamparada, nem a tua terra se denominará jamais Desolada; mas chamar-te-ão Minha-Delícia; e à tua terra, Desposada; porque o Senhor se delicia em ti; e a tua terra se desposará. Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus. Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais se calarão; vós, os que fareis lembrado o Senhor, não descanseis, nem deis a ele descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha por objeto de louvor na terra. Jurou o Senhor pela sua mão direita e pelo seu braço poderoso: Nunca mais darei o teu cereal por sustento aos teus inimigos, nem os estrangeiros beberão o teu vinho, fruto de tuas fadigas. Mas os que o ajuntarem o comerão e louvarão ao Senhor; e os que o recolherem beberão nos átrios do meu santuário. Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo; aterrai, aterrai a estrada, limpai-a das pedras; arvorai bandeira aos povos. Eis que o Senhor fez ouvir até às extremidades da terra estas palavras: Dizei à filha de Sião: Eis que vem o teu Salvador; vem com ele a sua recompensa, e diante dele, o seu galardão. Chamar-vos-ão Povo Santo, Remidos-do-Senhor; e tu, Sião, serás chamada Procurada, Cidade-Não-Deserta.
Novamente, na Parte I, Jeovah é anunciado ao seu povo como uma “coroa de glória” e um “belo diadema” — (28:5) Naquele dia, o Senhor dos Exércitos será a coroa de glória e o formoso diadema para os restantes de seu povo. — E, na Parte III, encontra-se a imagem que completa essa idéia, profetizando que Israel será como uma “coroa de glória e um diadema real” nas mãos de Jehovah — (62:3) Serás uma coroa de glória na mão do Senhor, um diadema real na mão do teu Deus.
Os “espinhos e os abrolhos” que são apresentados, na Parte I, como aquilo que Israel produz, como transcrito em 5:6 acima, dão lugar, na Parte III, a um melhor desenvolvimento, isto é, — (55:13) Em lugar do espinheiro, crescerá o cipreste, e em lugar da sarça crescerá a murta; e será isto glória para o Senhor e memorial eterno, que jamais será extinto.
Pode-se observar, também, que o colorido literário das cenas inclui alusões a agentes naturais que as compõem, como montanhas, florestas, árvores, rochas, torrentes, campos férteis e muitos outros, tendo a mesma força e conotação em todo o livro. O cenário de Isaías está todo na Síria e na Palestina, e não na Babilônia ou no Egito, exceto numa curta passagem (19.5-10). A admiração do profeta é dirigida ao Líbano, com os seus cedros fortes e altos, com seus ciprestes, olmeiros e buxos, bem como aos carvalhos de Basã. Igualmente, Isaías se refere ao Carmelo (palavra usada como substantivo comum no hebraico, com o significado de “terra frutífera” ou “pomar”; pode também ser usada para designar grãos frescos de cereal.) e a Sarom (lugar plano, ou planície; compreende a maior das planícies costeiras da Palestina.) e volta sua atenção para a rica região de Gileade com suas vinhas, frutos de verão e abundantes colheitas. As árvores são todas da Palestina ou da Síria, como os cedros, os carvalhos, os pinheiros, as figueiras, os ciprestes, as acácias, as oliveiras, as murtas e as vinhas. A palmeira, gloria da Babilônia, não recebe qualquer citação. O abundante vale do rio Eufrates é citado apenas uma vez (8.7). Em várias passagens, as águas referidas consistem de ribeiros, torrentes, fontes, açudes ou reservatórios, mananciais e coisas que tais, sendo todas essas formas familiares aos habitantes da Palestina. Rochas, cavernas, buracos na terra e penhas formam, também, os cenários do profeta e são coisas desconhecidas na topografia da Babilônia. De igual modo, montes, outeiros, madeiras, bosques, animais selvagens compõem as imagens de Isaías.
É evidente a origem palestina do “segundo Isaías”, embora tal assertiva não prove, conclusivamente, nada a respeito da autoria do livro. Contudo, a Parte III está em perfeita harmonia com as Partes I e II, constituindo-se num argumento de peso a favor da unidade de toda a obra do profeta Isaías.
Com essa palavras concluímos essas considerações, afirmando, mais uma vez, que Isaías é o mais profundo e completo profeta de Deus, no Antigo Testamento.
Pedro Corrêa Cabral
Maceió, março de 2002
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