Copyright © Primeirona
Design by Dzignine
21 de set. de 2007

No ritmo de Zoroastro


Certa ocasião, dei carona a uma pessoa. Eu estava ouvindo uma música de um cantor não-evangélico. De imediato, o carona se surpreendeu por eu estar ouvindo “música mundana”. E agora? Fui pego em flagrante delito espiritual? Creio que não. Tive de pacientemente explicar a diferença entre música mundana e música evangélica. Ele não se dava conta de que na verdade estava seguindo o ritmo de Zoroastro.
Zoroastro, também chamado Zaratustra, foi o sábio persa que sistematizou um dualismo complexo, de abrangência metafísica (a crença em dois princípios co-eternos, incompatíveis e antagônicos: o reino do bem e o reino trevas), cosmológica (criação – anticriação), ética (bem – mal) e antropológica (corpo – espírito). Esse dualismo radical influenciou o pensamento grego, além de influenciar duas correntes de pensamento que rivalizam com o cristianismo pós-apostólico: o gnosticismo e o maniqueísmo. Sua proposta era ambiciosa: libertar a alma (a centelha divina) que havia sido aprisionada no corpo físico, pertencente ao reino do mal.
Ao longo da história, a igreja precisou se defender do dualismo, reafirmando que Deus é criador tanto da matéria quanto do mundo espiritual; que o ser humano não é uma alma aprisionada no corpo, mas um ser tanto físico quanto espiritual. Não somos somente “alma”, somos um composto de corpo e alma. Na ressurreição, alma e corpo voltam a se encontrar. O ser humano integral voltar a viver em sua plena natureza.
Há, porém, um ponto em que o dualismo também era nocivo: na luta entre o Bem e o Mal, a individualidade do ser humano era praticamente ignorada, ou desprezada. O indivíduo era tão-somente um agente passivo, influenciado quer pelo Bem quer pelo Mal, um joguete nas mãos dos deuses, como cantado pelo Abba em “The winner takes all” [O vencedor leva tudo].
Não é difícil perceber que no meio evangélico muitos se deixaram influenciar por esse dualismo. Muitos vivem uma ética nos moldes do zoroastrismo. Isso fica evidente na sua concepção de mundanismo. O termo é empregado para indicar especialmente tudo o que não é evangélico. Assim, música mundana é música que não louva a Deus, ou não é gravada por evangélicos. Se não for de Deus, é automaticamente do Diabo.
É preciso nos libertar desse dualismo. As Escrituras fornecem um caminho para por fim a isso. Veja, por exemplo, o uso da palavra “doutrina”. Três tipos de doutrina são apresentados:
1. de Deus – provém diretamente dos céus; é o bom conteúdo da fé (Mt 22.33; At 13.12);
2. de demônios – esse tipo deve ser evitado a todo custo, são ensinamentos que contradizem a verdadeira fé e conduzem a toda tipo de prática contrária à vontade de Deus (1 Tm 4.1);
3. de homens – é concebido por homens em prol de interesses próprios; reflete-se também em usos e costumes (Mt 15.9; 16.12; Cl 2.22); não é nem divino nem diabólico; é humano, demasiadamente humano.
Seguindo esse raciocínio, podemos afirmar que há três modalidades de música:
1. divina – canta as coisas de Deus, reflete os padrões do reino dos céus, inspira o louvor e a adoração do Altíssimo;
2. demoníaca – é mundana, pois trabalha contra Deus e seus valores; que incita as obras da carne e todo tipo de prática antibíblica;
3. humana – não tem necessariamente nenhuma relação com as outras duas; aqui, a individualidade e o talento humanos são preservados, evitando dissolvê-los numa eterna luta entre o Bem e Mal; aqui, o ser humano fala de si mesmo, de suas inquietações, frustrações, desejo etc.
Para saber se uma música é realmente mundana, é preciso definir o que é mundanismo. Essa palavra vem de “mundo”. Nas Escrituras, a palavra “mundo” (do grego kósmos) tem diversas acepções, entre as quais destacamos:
1. o universo físico ordenado (Jo 17.5; Rm 1.20);
2. a humanidade (Jo 3.16);
3. sistema anti-Deus, com suas atitudes corrompedoras, como aquelas alistadas por Paulo aos gálatas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas (Gl 5.19-21).
É na terceira acepção que encontramos o que vem a ser o “mundanismo” do qual os cristãos devem se afastar. Trata-se do kósmos que é caracterizado por atitudes que desonram a Deus, ao próximo e ao próprio indivíduo. O mundanismo é uma aversão a Deus e aos seus preceitos. Esse era o “mundo” ao qual Tiago se referiu: “Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, quem quiser ser amigo do mundo coloca-se na posição de inimigo de Deus” (Tg 4.4). Ele então enumera as seguintes atitudes mundanas: guerras (v. 1), lutas (v. 1), cobiçais (v. 2), soberba (v. 6), fofoca ou maledicência (v. 11). Esses mesmos elementos foram alistados pelo apóstolo João (1Jo 2.15-17). É desse mundo, desse sistema anti-Deus, que a Igreja deve se proteger. O mundanismo está mais presente em nosso meio do que julga nosso inútil autoconceito triunfalista e separatista.
Então, o que é música mundana? É toda e qualquer música que reflete o mundanismo. Sendo assim, nem toda música composta, ou cantada, por não-cristãos é mundana, mas somente as que transmitem mensagens que contrariam a vontade de Deus. Não dá para colocar no mesmo bojo o mestre Gonzaguinha com a sua belíssima música “O que é o que é” (Eu fico com a pureza da resposta das crianças/ É a vida, é bonita e é bonita/ Viver, e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar e cantar/ A beleza de ser um eterno aprendiz/ Ah, meu Deus, eu sei, eu sei/ Que a vida devia ser bem melhor e será/ Mas isso não impede que eu repita/ É bonita, é bonita e é bonita) com a intragável “Na boquinha da garrafa”, da Cia. do Pagode. Fala sério!
O dualismo é um empecilho para que se reconheça que o homem e mulher foram feitos à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1.26, 27). Isso significa que o ser humano é dotado de certas habilidades e talentos inerentes à sua condição de ser racional. Além de racional, também somos seres estéticos. Apreciar o belo nas produções artísticas é algo que nos foi concedido por Deus. A racionalidade confere ao ser humano autonomia para desenvolver dons e talentos naturais. Para alguém ser um bom músico, portanto, não precisa ser cristão, nem falar de coisas que digam respeito à fé cristã. A música de um não-cristão não deve ser tomada automaticamente por “mundana” ou “demoníaca”. É simplesmente um produto do talento humano. Esse talento pode ser canalizado para a adoração a Deus (música sacra), aos interesses do reino das trevas (músicas que incitem à devassidão, que promovam a idolatria ou à religião falsa) ou mesmo para falar de coisas próprias ao gênero humano, como a vida, o amor e outras coisas belas. Por meio da música, pode-se expressar alegria, tristeza, gratidão, anseios e expectativas. É o coração se derramando nos acordes musicais. Isso não é mundanismo. É humano, demasiado humano. E, por que não dizer, divino?
Aldo Menezes

3 comentários:

  1. It's so nice for me to have found this blogg of yours, it's so interesting. I read what I could. I sure hope and wish that you take courage enough to pay me a visit in my PALAVROSSAVRVS REX!, and plus get some surprise. My blogg is also so cool! Don't think for a minute that my invitation is spam and I'm a spammer. I'm only searching for a public that may like or love what I POETRY write, among other types of Artistic Texts.

    Feel free off course to comment as you wish and remember: don't take it wrong, don't think that this visitation I make is a matter of more audiences for my own blogg. No. It's a matter of making universal, realy universal, all this question of bloggs, all the essential causes that bring us all together by visiting and loving one another. However...

    Some feel invaded and ofended that I present myself this way in their blogs and rudely insult me back or post a mockery post on me.
    Some think I'm playing the smart guy who wants to profit, in my miserable and ridiculous gain with Adsense (go figure!), from and with others curiosity and benevolence.
    Some simply ignore me.
    Some aknowledge that It's most important we all take notion that there's milions of us bloguing arownd the world and thus vital any kind of awareness such as I believe this my self-introduction card and insert apeal brings in.

    May you be one of those open and friendly spirits.

    You must not feel obliged to come and visit me. An invitation is not an intimation. Also know that if you FOR A SECOND click on one of my ads I'm promised to earn a couple of cents for that: I would feel happy and rewarded (because I realy unemployedly need it!!!) if you did click it FOR A SECOND, but once again you're totaly free to do what ever you want. I, for instance, choose immediatly to click on one of your ads, in case you have them. To do so or not, that's the whole beauty of it all, however, blogocitizens must unite also by clicking-helping eachother when we know cybermegacorporations profit from our own selfishness regarding to that simple click.

    About this I must say, by my own experience, that no one realy cares (maybe a few) about this apeal I make, no one gives a fucking shit about it and you certainly will confirm this rule, but you must believe me: I love to visit new bloggs every day from all over the world, I've learned and seen a lot after more than 10.000 bloggs I've visted in three months. And I will, like Titanic's Kate, keep on and on and on.

    Still I believe in my Work and Dreams and thus
    I'll keep on apealing and searching
    so strong is my will.

    I think it's to UNITE MANKIND that we became bloggers! Don't see language as an obstacle but as a challenge (though you can use the translater BabelFish at the bottom of my page!) and think for a minute if I and the rest of the world are not expecting something like a broad cumplicity. Remenber that pictures talk also. Open your heart and come along!!!!!

    And of apeal.

    So you think this is begging and begging is ugly?
    So you think this is just copy/paste and ignoring what you've posted?
    Think what you like: begging or not this is my form of self-presentation.
    You can allways ignore me,
    ignore this apeal and give me shit.

    But do not bore to come and moralize me back.

    ResponderExcluir
  2. Caro Joshua:
    Graça e paz. Já que você fala português, pelo que vi no seu perfil, não vejo necessidade de me expressar em inglês, embora pudesse fazê-lo. Fiquei feliz com a sua mensagem e, sem dúvida, entrarei nos seus blogs e clicarei nos seus anúncios.
    Saiba que Jesus o ama. Receba-o como seu único e suficiente Senhor e Salvador.
    No amor de Cristo,
    Pr. Pedro

    ResponderExcluir
  3. Não podemos generalizar dessa forma dizendo a musica que não é para Deus é para o diabo, isso se torna um dogma. Deus dotou o homem de criatividade, inteligencia. Logicamente temos que ter sabedoria para separar o que é licito e o que não é. Mesmo em musicas ditas Gospel temos que prestar atenção naquilo que escutamos, não é por que foi feita por um " irmão" que não temos que ter um olhar critico ,,,,, melhor aí é que temos que realmente um olhar critico para não sairmos por ai cantando musicas com letras que não condizem com a sã doutrina. Não devemos poupar nossos ouvidos de boa musica e na musica secular tem se muitos exemplos da criatividade que Deus deu ao homem, principalmente na musica instrumental. Nunca aconteceu comigo mas já ouvi falar de irmaõs censurando outros por que na sua imaginação o crente só tem que ouvir musica gospel e coisa e tal. Quando ouvimos musicas que louvam a Deus devemos ter uma atitude tambem de louvor e não escutar apenas por escutar.

    Célio Roberto
    celoliveira@terra.com.br

    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário!