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13 de out. de 2007

Investimento


Certa noite, após ter concluído meu último culto, às dez horas, um pobre homem veio pedir-me que fosse orar por sua esposa, dizendo que ela estava moribunda. Concordei de imediato, e a caminho da casa dele perguntei-lhe por que não chamara o padre, posto que seu sotaque me indicava que ele era um irlandês. Segundo explicou, assim o fizera, mas o padre se recusara a vir sem o pagamento adiantado de dezoito pence, que o homem não possuía, porquanto a família estava passando fome.
Imediatamente ocorreu-me que todo o dinheiro que eu tinha neste mundo era uma solitária moeda de meia coroa; além disso, ainda que me esperasse em casa a tigela na qual eu usualmente ia buscar o meu jantar, e mesmo que havia o suficiente para meu desjejum na manhã seguinte, nada me restava para almoçar no outro dia.
O homem me levou por um miserável lance de escada até um destroçado quarto; e que visão se apresentou perante os nossos olhos! “Ah!”, pensei eu, “se eu tivesse dois xelins e seis pence, em lugar de meia coroa, quão alegremente eu lhes daria um xelim e seis pence!” Todavia, uma desgraçada incredulidade impediu-me de obedecer ao impulso de aliviar a aflição deles ao custo de tudo quanto eu possuía.
“Você pediu-me que viesse e orasse por sua esposa”, disse eu ao homem. “Ajoelhemo-nos e oremos”. E nos ajoelhamos. Mas, nem bem eu abrira meus lábios dizendo “Nosso Pai, que estás no céu”, a consciência me acusou dentro em mim: “Ousas zombar de Deus? Tens a coragem de te ajoelhares e de chamares a Deus de Pai, tendo meia coroa no bolso?” Tal foi o conflito que me assaltou, que nunca antes nem depois experimentei igual. Como consegui terminar aquela forma de oração, não sei; nem sei dizer se as palavras tinham nexo ou não; contudo, levantei-me dali com profunda angústia na mente. O pobre pai voltou-se para mim e disse: “O senhor está vendo a triste condição em que nos achamos; se pode ajudar-nos, ajude-nos pelo amor de Deus!” Foi nesse momento que brilharam em minha mente as palavras: “Dá-lhe o que te pede”. Enfiei a mão no bolso e retirei lentamente dali a moeda de meia coroa. Entreguei-a ao homem, dizendo-lhe que aquilo que eu vinha procurando dizer-lhe era realmente verdade – que Deus é mesmo um Pai, e que se pode confiar nEle. A alegria voltou completa ao meu coração. Dali por diante pude declarar toda a verdade com autêntico sentimento, e o empecilho para a bênção desaparecera – desaparecera para sempre, conforme confio.
Lembro-me bem de como naquela noite, quando me dirigia para casa, meu coração sentia-se tão leve quanto o meu bolso. Quando tomei minha tigela de mingau, antes de retirar-me para meu quarto, não a trocaria nem pelo banquete de um príncipe. Ao ajoelhar-me ao lado de meu leito, lembrei o Senhor, pela sua própria Palavra, que aquele que dá ao pobre empresta ao Senhor: roguei-Lhe que o meu empréstimo não fosse por muito tempo, pois doutro modo eu não teria o que almoçar no dia seguinte; então, sentindo paz interior e gozando de tranqüilidade, passei uma feliz noite de descanso.
Na manhã seguinte, minha tigela de mingau não faltou. Antes de terminá-la, ouviu-se o carteiro que batia à porta, e pouco depois a proprietária da pensão veio entregar-me um envelope, com a mão molhada coberta pelo avental. Pus-me a olhar para o envelope, mas não pude atinar de quem era a letra. Era a caligrafia de um estranho, ou uma caligrafia disfarçada, e o carimbo do correio estava borrado. De onde viera, eu não sabia dizer. Ao abrir o envelope, nada encontrei escrito; porém, dentro da folha de papel em branco havia um par de luvas. E, ao abri-las, para minha surpresa caiu meio soberano. “Louvado seja o Senhor!” exclamei. “Quatrocentos por cento por um empréstimo de doze horas, é um ótimo lucro. Quão satisfeitos ficariam os negociantes de Hull, se pudessem emprestar seu dinheiro a uma taxa tão alta!” E naquele exato instante tomei a resolução de que um banco que não pode falir, de agora em diante, é que receberia as minhas economias ou proventos, conforme fosse o caso – uma determinação da qual até hoje não me arrependi.
Hudson Taylor (1832-1905)

2 comentários:

  1. Graça e Paz do Nosso Senhor Jesus
    Pasto Pedro.
    Como seria bom se todos compreendeçemos a grandeza e o amor de Deus para conosco, quando fazemos nossas orações entercedendo por nossas vidas, que melhor agradecimento a Deus seria se devolvessemos a Ele pessoalmente pelo menos algumas das bençãos que Ele nos dá, pois quando ajudamos de qualquer forma que seja um pobre, um necessitado ajudamos, estamos de alguma forma devolvendo(demonstrando o nosso reconhecimento ou agradecimento a Deus) o imenso amor de Deus. É uma matematica complicada, e dificil de entender para quem vive neste mundo, até para os crentes mas esforçados,"que quando damos é que recebemos",que "quando se ajuda vc esta se ajudando","quando se perdoa é que vc estara sendo perdoado", as vezes medito sobre isto, e vejo quão maravilhoso é nosso Deus. e quanto estamos longe de compreender seu amor e quão pouco fazemos em agradecimento.
    Que nosso Senhor Jesus abençoe aos que compreendem essa grande verdade e medite bastante antes de pedir bençãos materiais se realmente está praticando o amor ao proximo.
    Que a paz do Senhor esteja com vc Pastor Pedro e os membros da Igreja que pastoreia.
    Célio Roberto.

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  2. Célio Roberto:
    Obrigado por suas palavras cristãs de incentivo. Realmente, vc tem razão. O amor de Deus é algo assim incompreensível para nós.Fico meditando, como Deus nos abençoa, sendo nós "miseráveis pecadores" como diz Paulo em Rm 7.24.
    Fique na paz do Senhor Jesus.
    Pr. Pedro

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