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6 de jun. de 2008

O Tapeceiro, o Oleiro e o Sonhador


Todos temos nossas brigas com Deus! Quem nunca as teve?
Talvez os mais fundamentalistas e “donos da verdade” nunca tenham passado por isso, e só eles! Nem os ateus, creio eu, deixam de passar por isso, pois vivem lutando para negá-lo.
Ora, se eu creio que algo não existe, pra que lutar contra? Nunca saí caçando sacis e mulas-sem-cabeça, e nem preciso escrever livros tais como “Sacis, um delírio”, mas não é esse o tema desta “conversa”.
Quero falar sobre sonhos, o tapeceiro e o oleiro.Não consigo entender um futuro milimetricamente escrito por Deus, como querem alguns. Isso me faria crer que até meus erros foram planejados por Deus, e tudo aquilo que me causou (ou ainda me causa) tanta dor seja uma proposta sádica de um Deus que quer que eu aprenda, na marra, alguma coisa.
Não estou, acreditem, discutindo predestinação e livre-arbítrio quanto à salvação, pois ambas as linhas têm suas razões e dificuldades quanto ao tema.
Quero falar do dia-a-dia... de escolhas que fazemos (e muitas vezes por causa do próprio Deus)... e que depois nos trazem tanta dor e angústia.
Por que, Deus, eu estou pagando tão caro, por ter dito a verdade?
Por que, Deus, eu perdi tanto, exatamente por fazer o que o Senhor tinha pedido?
Por que, Deus, o Senhor não me livrou daquela tentação?
Por que, Deus, aquele outro, pilantra, safado, cresce no ministério enquanto eu, que procuro estar te servindo com amor e graça, só experimento sofrimentos?
Será mesmo, Deus, que eu precisava quebrar a cabeça nas besteiras que fiz, para aprender?
Quem nunca fez essas perguntas a Deus? Quem nunca lutou com Deus dessa forma?
Quando penso na figura bíblica do oleiro, ou na figura musicada por Stênio Marcius, do tapeceiro, me vêm à mente todas essas questões... como assim? Isso tudo é proposital? Faz parte do “pacote”?
Na verdade, entendo essas duas figuras não como deterministas, fatalistas, do tipo “tem que ser assim porque tem que ser assim!”, mas como figuras do cuidado de Deus e do seu imenso amor por cada um de nós.
Tanto o tapeceiro quanto o oleiro têm em mente uma obra de arte, um quadro bonito ou um vaso que será admirado. E eles sabem o que fazem... mesmo!
O problema não está no tapeceiro, nem no oleiro, mas em nós, os sonhadores. A crise aqui ocorre porque tanto a linha do tapeceiro quanto o barro do oleiro têm vontades... o que chamamos de livre-arbítrio. Muitas vezes, o artista está moldando ou cosendo algo, e nós, por livre e espontânea vontade, nos lançamos fora da forma ou do molde que as mãos estão nos dando.
O vaso de barro, narrado em Jeremias, se estragou “nas mãos do oleiro”, ou seja, podemos mesmo quando estamos nas mãos do oleiro, por nossa própria iniciativa, tomar uma forma indesejada ao artífice. Deus é oleiro, e não fôrma! Deus nos trata com carinho, em suas próprias mãos e não nos coloca pressionados sob um molde, e que se dane o material, no mais puro estilo “tem que ser assim...”
Sendo dessa maneira, não resta outro jeito, a não ser quebrar o vaso... para fazer um novo. Uma das coisas que mais me fascina em Deus é sua graça e misericórdia, sua persistência, sua paciência... ele não remenda o vaso... ele faz novo!!! Deus não está interessado em ter um monte de gente remendada, mas gente nova! É abundância de vida... e vida em novidade de vida.
Por isso, muitas vezes, ele muda os nossos planos, ele muda tudo! Nada de remendos... o que Ele quer é a alegria total do vaso, ou a beleza total do quadro, como um tapeceiro que volta a fazer novamente sua obra, mesmo quando estragada pela própria linha, e ainda que naquele emaranhado de fios que fica do lado do avesso, que pode parecer uma confusão total... ele está fazendo uma obra nova... um quadro novo... “obra de arte... pra honra e glória... do tapeceiro!”
Mas, porque falo dos sonhadores?Porque Deus, oleiro e tapeceiro, conhece nossos sonhos.
Não... Deus não sonha! Mas eu sonho... e Ele conhece os meus sonhos... e os conhece por inteiro, mais até do que eu...
Pode ser que lá na frente, assim como a maravilha de se olhar um vaso novo, ou uma obra de arte de um tapeceiro, pelo lado certo, entendamos as voltas da vida... que na maioria das vezes fomos nós mesmos que nos impusemos... mas que, em nenhum momento, fez o artista desistir de seu intento final.
Ele sabe o que faz!
Mesmo quando pega os nossos restos espalhados pela vida, que muitas vezes, nós mesmos deixamos como rastros de infelicidade no caminho.
Portanto, sonhemos sim... e deixemos que o artista, oleiro e tapeceiro, trace seus desenhos e formas... do jeito que Ele mesmo achar melhor...
Ele sabe o que faz!
Que Deus, o Grande Artista, nos abençoe!
José Barbosa Junior
Belo Horizonte – MG – 22/01/2008

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