Parte 5
Não se sabe ao certo quando o Rei da Assíria começou a ameaçar Ezequias. O fato é que Sargão fez várias expedições à Síria e à Filícia, bem como, numa oportunidade, se autodenominou de “o Conquistador de Judá”. Todavia, não existe evidência suficiente de que ele tenha feito alguma tentativa de subjugar Judá. Isso somente veio a acontecer depois que Senaqueribe assumiu o trono da Assíria em 705 a.C.
Entretanto, o perigo começou a ganhar corpo durante o reinado de Ezequias e, quando se tornou mais iminente, os conselhos daqueles que não criam em Deus prevaleceram. Embaixadores foram enviados ao Egito (30.2-4), e uma aliança foi costurada, através da qual o Faraó Shabako e o suserano etíope Tiraka tomaram sobre si a responsabilidade de preparar um exército para defender Judá, caso ela fosse atacada pelos assírios.
No quinto ano de Senaqueribe, em 701 a.C., foi desencadeado o ataque. O Rei assírio conduziu pessoalmente o seu exército à Palestina e distribuiu as tropas pelo país, tomando todas as menores cidades fortificadas de Judá, quarenta e seis ao todo, segundo o seu próprio relato (John Bright. História de Israel. São Paulo, Paulus, 1978). Depois disso, concentrou suas forças sobre Jerusalém, sitiando a cidade (22.1-14). Ezequias resistiu ao cerco até quanto pode, todavia, desesperou-se, no final, por saber que não poderia sobreviver por muito tempo sem receber ajuda do Egito, sendo, então, forçado a negociar com seu adversário. Para não sucumbir, pagou uma grande soma em ouro e prata, a maior parte retirada dos tesouros do templo (2 Rs 17:14-16).
Só assim, Senaqueribe se retirou, não antes de submeter Judá à antiga posição de tributário da Assíria.
Não obstante, esta situação não satisfez a nenhuma das duas partes. Senaqueribe não confiava em Ezequias, enquanto este, tão logo viu os assírios se retirarem, reiniciou as negociações com o Egito. Assim, depois de alguns meses, a guerra novamente irrompeu. O rei assírio ocupou Shefelah e a Filícia com suas principais forças, mantendo o Egito sob observação. Enquanto isso, enviou um destacamento, sob o comando de um de seus generais, para ameaçar e sitiar Jerusalém novamente, tão logo houvesse oportunidade. Isaías relata com detalhes as manobras realizadas por tal destacamento (36:2-22; 37:8). O próprio profeta estava presente em Jerusalém e encorajou Ezequias a desafiar os inimigos (37:1-7). E, dessa vez, Ezequias agiu de acordo com os conselhos de Isaías, obrigando Senaqueribe a enviar uma carta a Judá contendo ameaças mais violentas ainda, caso a cidade não se rendesse. A receber tal carta, Ezequias foi ao templo e a colocou diante do Senhor (37:14) e, então, o Deus de Israel expediu um decreto determinando a destruição das forças da Assíria. Não se sabe qual foi o local da matança, porém, não há duvida de que o exército assírio sofreu uma tremenda derrota, a qual produziu um terrível pânico e uma desabalada retirada das forças inimigas. Além disso, as conseqüências da derrota assíria não foram temporárias. Da mesma forma que Xerxes na Grécia, Senaqueribe nunca mais se recuperou do choque provocado pela derrota que lhe fora imposta por Judá. Desta forma, ele não mais fez qualquer incursão ao Sul da Palestina ou ao Egito. Judá passou, então, um longo período livre de ameaças de ataque ou de invasão, de tal maneira que os anos finais de Ezequias foram de paz e de prosperidade (2 Cr 32:23, 27-29). O sucessor de Ezequias, Manasses, no início de seu reinado, também não teve problemas com seus inimigos, mesmo porque era ainda muito jovem para introduzir mudanças nas práticas religiosas de Judá.
Se os anos de Isaías não estivessem chegando ao ocaso, seguramente, ele teria desfrutado desse período de paz e descansaria entre o final da retirada assíria e o começo das perseguições de Manassés. Provavelmente, nesse intervalo, foi composto o “livro da consolação”.
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