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13 de jun. de 2007

Considerações no Livro do Profeta Isaías

Parte 6
O Livro de Isaías, da forma como chegou até os dias de hoje, apresenta uma forma peculiar de composição. Tanto para o crítico como para o leigo, o livro apresenta-se como que dividido em três partes principais, cada uma delas guardando suas próprias características. Os primeiros trinta e cinco capítulos compõem-se de uma declaração profética aos israelitas a respeito da “Palavra de Deus”, ou de sua vontade soberana, em quase toda a sua totalidade. Isto é, tais capítulos são didáticos, admoestatórios e exortatórios, não contendo qualquer narrativa propriamente dita. Estes trinta e cinco capítulos proféticos são seguidos por quatro capítulos históricos (Parte II - Capítulos históricos: 36-39), os quais contêm uma completa e simples narrativa de todos os eventos ocorridos no reinado de Ezequias. O trabalho é concluído com uma terceira parte, a qual, de maneira semelhante à primeira, é também profética e se estende por vinte e sete capítulos (Parte III – Capítulos 40 -66).
Existe um notável contraste entre a Parte I e a Parte III, no que respeita ao assunto tratado, bem como no sentido de certas características de ambas as composições. Assim, o principal inimigo de Israel, na Parte I, é a Assíria, enquanto na Parte III, é a Babilônia. A Parte I trata da época de Ezequias e do próprio profeta Isaías, enquanto a Parte III trata dos tempos do exílio Babilônico. A Parte I contém vários tópicos e datas que a dividem, claramente, em seções. Já a Parte III não tem tais subdivisões, parecendo fluir de maneira mais contínua. Outro aspecto é que a Parte I é eminentemente denunciatória, enquanto a Parte II é, fundamentalmente, consolatória. A Parte I engloba todo o mundo conhecido da época, mas a Parte II somente se refere à Babilônia, à Pérsia e à Palestina. Não obstante, ambas estas partes são messiânicas, embora a Parte I apresente o Messias como um poderoso Rei e Governante, enquanto a Parte III o revela como uma vítima sofredora, um humilde e simples Redentor.
Além de todas essas diferenças, quando as Partes I e III são cuidadosamente examinadas, elas se parecem mais com compilações do que com relatos contínuos e coerentes entre si. A Parte I está dividida, claramente, em várias seções, cada uma delas completas em si mesmas, mas quase sem ligação de uma em relação à anterior ou à subseqüente. Já a Parte III tem menos aparência de algo descontínuo, embora contenha tantas transições bruscas, que é quase impossível considerá-la como um trabalho contínuo no seu todo.
O livro, na sua inteireza, apresenta, portanto, características que permitem especular a possibilidade dele ser composto por várias compilações que foram reunidas. Ou seja, a impressão que se tem é a de que o livro é uma reunião artificial de profecias anunciadas em ocasiões diferentes, cada uma completa em si mesma, sem a preocupação de formar um todo coerente.
A composição geral do livro, por quem quer que o tenha compilado, o que será considerado mais adiante, parece obedecer a uma certa cronologia. Todas as referências de tempo da Parte I estão numa própria, as quais por sua vez pertencem, provavelmente, a uma época anterior à composição da Parte III. Entretanto, não fica explícito se tal ordem cronológica foi observada no arranjo das seções das quais as Partes I e III são compostas. Certamente, as profecias foram, no princípio anunciadas oralmente e, depois, escritas, algumas vezes havendo um lapso de tempo considerável entre tais ações. Desta maneira, em suas formas escritas originais, as profecias se constituíam em vários documentos separados. Depois de um certo tempo, parece que elas foram reunidas em algum tipo de ordem que não era cronológica. Por exemplo, no “Livro das Pesadas Sentenças”, o qual se estende do capítulo 13 ao 23, a sentença de abertura contra a Babilônia, provavelmente, não foi composta tão cedo como as outras. Entretanto, a quinta sentença contra o Egito contém indicações de que foi escrita bem mais tarde. Parece que o compilador juntou as profecias que possuíam características semelhantes, sem levar em consideração as datas das composições.
Entrando um pouco mais em detalhes, pode-se dizer que a Parte I contém onze seções a saber:
Seção I – corresponde ao capítulo 1 do texto hebraico, constituindo-se numa instrução geral de admoestação e de ameaças.
Seção II – vai do capítulo 2 ao 5, sendo aberta com o anúncio do Reino de Deus, numa Israel espiritual e futura. Esta seção contém uma série de denúncias dos vários pecados do povo.
Seção III – compreende todo o capítulo 6 e registra uma visão que veio ao profeta, bem como a missão especial que lhe foi atribuída por Deus.
Seção IV – estende-se de 7:1 a 10:4, contendo uma série de profecias, em sua maioria messiânicas, anunciadas em conexão com a guerra sírio-israelita.
Seção V – começa em 10:5 e vai até o final do capítulo 23. Esta seção tem sido chamada por alguns estudiosos de o “Livro das Pesadas Sentenças” e consiste numa série de condenações públicas pelas misérias das nações, especialmente contra aquelas que são inimigas de Israel.
Seção VI – corresponde aos capítulos de 24 a 27 e contém condenações gerais contra o mundo, bem como anuncia promessas de salvação dos remanescentes de o povo de Israel.
Seção VII – vai do capítulo 28 ao 31, consistindo de renovadas condenações pelas misérias sofridas por Israel e Judá.
Seção VIII – esta seção está limitada aos oito primeiros versos do capítulo 32, contendo a profecia do Reinado do Messias de Israel.
Seção IX – composta do restante do capítulo 32, contém a renovação das condenações pelas misérias de Israel, relacionadas com promessas.
Seção X – consiste do capítulo 33 e contém uma profecia a respeito do julgamento da Assíria.
Seção XI – é composta pelos capítulos 34 e 35, declarando o julgamento divino sobre o mundo e a glória do Reino de Deus que se segue a tal julgamento.

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