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21 de jun. de 2007

Considerações no Livro do Profeta Isaías

Parte 8
A primeira e mais evidente característica de Isaías, talvez, esteja na sua calma, suave e magistral, acompanhada de expressões de grandeza e de dignidade. Embora os sentimentos que o movem sejam fortes, bem assim as circunstâncias sob as quais ele escreve sejam excitantes, o profeta sempre mantém um perfeito autocontrole sobre sua linguagem para não permitir que ela se torne extravagante ou inapropriada. Enquanto a sua eloqüência aumenta ou diminui de acordo com o teor dos assuntos, a linguagem, algumas vezes, torna-se altamente poética, figurativa e fora do comum, dando a impressão de que uma calma espiritual dirige a composição, a qual apresenta controladas hipérboles e paixões com rédea curta que emprestam ao discurso um desenvolvimento majestoso e, em certo sentido, um ritmo uniforme. Observa-se em Isaías um fluxo e uma inteireza de pensamentos, os quais poderiam fazê-lo perder-se, dada a sua vastidão, mas, ao contrário, no tempo certo, ele os reúne com perfeito domínio e os tempera com exuberância, tirando deles tudo o que pode ser tirado, sem nunca exauri-los. Este sério autocontrole é o que de mais admirável se observa em Isaías, por menores que sejam suas expressões verbais, as quais, por meio de breves imagens, nos dão uma vaga sensação de algo infinito, embora elas estejam diante de nós completas em si mesmas e claramente delineadas.
Ao lado dessa calma suave e magistral, a energia e a vivacidade do estilo de Isaías exigem uma observação. Tal energia e vivacidade são produzidas, fundamentalmente, pelo uso intenso de impressionantes imagens e, secundariamente, por uma dramática representação. O profeta se utiliza, também, de muitas antíteses e, freqüentemente, joga com as palavras, pela força das expressões que emprega, pelas vívidas descrições e pela expansão das idéias contidas em pontos ocasionais.
A profusão de imagens chocantes é, deveras, evidente para todos os seus leitores, não apenas numa passagem ocasional ou num verso em particular, mas em toda a composição, a qual apresenta comparações e metáforas belíssimas. Tais figuras de linguagem dão às frases de Isaías um cunho poético e elevam o seu texto a um nível fora do comum. Neste sentido, é notável a força e a variedade de suas metáforas. A Assíria se transforma num enxame de abelhas, em águas tempestuosas, numa navalha, num leão, numa vara, num machado e assim por diante. Jehovah é um oleiro, um pastor de ovelhas, um homem de guerra, uma pedra de tropeço, uma rocha de ofensa, um laço e uma armadilha, um purificador de metais, uma coroa de glória e várias outras figuras da divindade, todas com notável força literária. Sião é uma choça na vinha e uma palhoça no pepinal, um monte do Senhor, um escravo sentado na areia, ou uma mulher em trabalho de parto. Israel é geralmente comparado a um corpo doente, um carvalho de folhas murchas, uma vinha improdutiva, ou a brecha de um muro que esta prestes a cair. O Messias é a raiz de Jessé, um renovo e um rebento, um servo, um homem de dores, um cordeiro levado ao matadouro e uma ovelha muda perante os seus tosquiadores. Os degenerados são descritos como prata que se tornou escória, ou vinho que se misturou com água. O ímpios persistentes são comparados àqueles que puxam para si a iniqüidade com cordas de injustiça e o pecado, como com tirantes de carro! O destruidor conceberá palha e dará à luz restolho. As nações estão sob a vigilância de Deus, consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança.
Além disso, entre as mais belas metáforas de Isaías não se pode deixar de citar as seguintes: Então, ficou agitado o coração de Acaz e o coração do seu povo, como se agitam as árvores do bosque com o vento (7.2). O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz (9.2). A terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar (11.9). Vós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação (12.3). Cada um servirá de esconderijo contra o vento, de refúgio contra a tempestade, de torrentes de águas em lugares secos e de sombra de grande rocha em terra sedenta (32.2).
Todavia, para se fazer plena justiça a esse aspecto dos escritos do profeta, ter-se-ia que citar cada capítulo e quase todos os versos, uma vez que a beleza literária de seu trabalho invade a composição por inteiro, estando presente até mesmo nos capítulos históricos da Parte II, onde tais metáforas não seriam de se esperar. Cabe, também, observar que as representações dramáticas, em termos comparativos, não são tão freqüentes, embora, ainda assim, ocorram em quantidade suficiente para se tornarem numa característica, bem como para desempenharem um notável efeito na dinâmica da composição como um todo. O exemplo mais admirável dessa afirmativa está no diálogo que se encontra nos três primeiros versos do capítulo 63:
— Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de vivas cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na plenitude da sua força? Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelho o traje, e as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo.
Contudo, existem numerosas outras passagens onde, num ou noutro verso, a palavra é colocada na boca de uma personagem, e não na do profeta, causando um extraordinário efeito literário.

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