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30 de jun. de 2007

Considerações no Livro do Profeta Isaías

Parte 11
Uma outra forma de retórica pode ser percebida em Isaias, como por exemplo: Contra todos os cedros do Líbano, altos, mui elevados; e contra todos os carvalhos de Basã; contra todos os montes altos e contra todos os outeiros elevados; contra toda torre alta e contra toda muralha firme; contra todos os navios de Társis e contra tudo o que é belo à vista (2:13-16).
Uma característica adicional encontrada no estilo literário de Isaías é a sua maravilhosa variedade. Algumas vezes, o seu discurso é suave e flui com tranqüilidade; enquanto noutras vezes é duro e incisivo; de vez em quando também é simples e prático, para a seguir voar aos mais altos píncaros da imagem poética. Dentro dessa variedade, o profeta inclui todos os tipos de ornamentos literários conhecidos em sua época, tais como a parábola, a imagem mental, a ação simbólica, os diálogos dramáticos, os arroubos líricos e os refrãos. Todos esses recursos são usados na ocasião apropriada, seja para pontuar um assunto de especial interesse, seja para se contrapor a algo que não se coaduna com a lei de Deus. Eis, aí, portanto, a razão pela qual o estilo de Isaías não tem um colorido único. Ele não é um profeta especialmente lógico, nem melancólico, nem eloqüente, nem tampouco admoestatório, como talvez sejam Joel, Oséias e Miquéias, nos quais uma especial característica literária predomina. Isaías é aquele profeta que consegue adaptar o seu estilo aos mais diferentes temas, qualidade que constitui a sua grandeza e excelência. O vocabulário do profeta demonstra que ele pertence a um dos mais puros e melhores períodos da literatura hebraica, razão pela qual nele não se encontram termos arcaicos. Alguns termos aramaicos foram identificados, mais especificamente nas suas últimas profecias. Todavia, tais termos não são suficientes numerosos para manchar a conclusão geral de que o seu vocabulário, como um todo, é bastante puro. Além disso, a quantidade de palavras que não ocorrem nos demais livros da Bíblia é acentuadamente grande, mostrando um vocabulário mais amplo do que em qualquer outro livro das Escrituras.
Não obstante, existem algumas teorias que questionam a autoria do Livro de Isaías. Uma delas, iniciada no final do século XVIII, afirma que Isaías não foi o verdadeiro autor das profecias contidas a partir do capítulo 40 até o final do livro. De acordo com essa teoria, o trabalho de um outro profeta, o qual teria vivido até ao final do cativeiro babilônico, foi anexado, talvez por descuido, às genuínas profecias do filho de Amoz, passando assim a ser consideradas como de Isaías. Tal teoria tem sido corroborada por estudiosos alemães da escola racionalista. Esses pensadores baseiam-se, principalmente, em dois pontos: (1) que o autor dos capítulos 40 a 66 toma como referência a época do cativeiro babilônico, falando de tal período como se fosse presente e, a partir daí, olha para o futuro, fato que, se verdadeiro, estaria fora tempo de vida de Isaías; (2) que esse autor tem conhecimento do nome e da carreira de Ciro, a respeito de quem um profeta que viveu dois séculos antes não poderia ter.
Posteriormente, tal teoria veio a receber apoio de outros estudiosos que acrescentaram haver diferenças entre o estilo e a linguagem nos capítulos de 1 a 39, em relação aos de 40 a 66. A partir desse argumento, concluem, então, que os últimos capítulos, necessariamente, devem ser de um outro autor, já que tratam de um período bem posterior.
Desta maneira, a teoria inicia-se com a afirmação de que houve dois Isaías, um mais cedo e outro mais tarde, um contemporâneo de Ezequias e o outro que viveu no tempo do cativeiro babilônico. Contudo, a referida teoria não para por aí. Um outro teólogo afirma que o Livro de Isaías, da maneira que chegou aos dias de hoje, é um trabalho de, pelo menos, sete autores. Ao Isaías, filho de Amoz, contemporâneo de Ezequias, ele atribui apenas os trinta primeiros capítulos. A um segundo profeta, a quem ele chama de o “Grande Desconhecido” que teria estado presente no final do cativeiro babilônico, ele atribui dezoito capítulos. Um terceiro, o qual teria vivido no reinado de Manasses, teria escrito o capítulo 35 e parte de quatro ou cinco outros. Um quarto autor, pertencente à época de Ezequiel, seria o escritor de quatro outros capítulos. Outro ainda, possivelmente Jeremias, teria escrito dois capítulos, e mais dois outros “Isaías” teriam escrito partes de alguns capítulos. O Livro de Isaías é, assim, segundo esse teólogo, Ewald, uma colcha de retalhos de natureza extraordinária. Tal teoria está resumida no Quadro 1.
Não parece, entretanto, que essa teoria esgota a hipótese iniciada anteriormente. Um outro estudioso, Cheyne, é de opinião que o tratamento dado por Ewald à parte final do Livro de Isaías não pode, em nenhuma circunstância, ser considerado como decorrente de uma análise profunda. Segundo este teólogo, torna-se cada vez mais evidente que a forma atual das profecias é decorrente da pena de uma classe especial de literatos, os escribas ou escrituristas, cuja principal função era reunir e “suplementar” os registros espalhados das revelações proféticas. Tal função foi desempenhada por esses profissionais com notável abnegação. Não existe, inclusive, nenhum registro de quem teria feito esse trabalho, numa prova de que eles não buscavam proeminência. Ao contrário, tudo parece indicar que eles possuíam a autoconsciência de que o que estavam escrevendo era o trabalho de homens inspirados por Deus. Tais profissionais escreviam, revisavam e editavam, como mesmo espírito que um talentoso artista, nos dias de hoje, se entrega ao glorioso trabalho de restaurar as obras dos pintores clássicos. O mesmo crítico acrescenta que o Livro de Isaías é um mosaico, ou uma colcha de retalhos, produzido por um número desconhecido de autores.
O certo, contudo, é que tais teorias não se originaram em diferenças notáveis de estilo, entre as porções do livro que são atribuídas a diferentes autores. Tais diferenças foram levantadas a partir dos assuntos contidos nas profecias. Neste sentido, os argumentos decisivos, mas não conclusivos, contra a autoria de um único escritor decorrem: (1) das circunstâncias históricas e (2) da originalidade das idéias, ou das formas nas quais tais idéias são expressas.
No que respeita às circunstâncias históricas, o fundamento está no fato de que o escritor sagrado dos últimos capítulos, os quais tratam do exílio babilônico, os escreveu quando Jerusalém e o templo estavam há muito tempo em ruínas, bem como os judeus encontravam-se desesperados com a evidente recusa de Deus de interferir para tirá-los daquela situação.
Com relação à originalidade das idéias, encontramos a descrição sarcástica da idolatria, os apelos às vitórias de Ciro, as referências aos poderes angelicais (24.21), a ressurreição de mortos (26.19), a eterna condenação dos ímpios (50.11) e a idéia do sacrifício vicário (cap.53).

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