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28 de jun. de 2007

Batismo Infantil


Considerações sobre
o Batismo Infantil

O batismo é apenas e tão somente um símbolo, não tendo nenhum valor intrínseco. Assim, as águas do batismo não são diferentes de quaisquer outras águas e não possuem nenhuma virtude sobrenatural, ou milagrosa, para transformar um pagão em cristão, como entendem algumas denominações. Desta forma, o batismo é um sinal exterior e visível de uma graça invisível recebida antes da cerimônia batismal, sendo, portanto, a representação simbólica da obra de regeneração no coração do pecador, embora não produza esta graça. Neste sentido, a água simboliza o lavar dos pecados no ato divino da regeneração operada pelo Espírito Santo. Confira o que diz Atos 22:16 — ... Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele. — e também Tito 3:5 — não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.

Assim, os pais crentes devem tirar do pensamento qualquer idéia de que as crianças que morrem sem ser batizadas ficam de alguma maneira prejudicadas. Em Marcos 10:14, o próprio Senhor Jesus nos ensina dizendo: — Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus.
O desejo que algumas pessoas não crentes têm de batizar seus filhos provém da idéia supersticiosa de que o batismo tem algum poder mágico, ou milagroso, para salvar as crianças. Tal crença deve ser veementemente combatida.
Somente os pais que crêem verdadeiramente em Cristo como seu Salvador e que, portanto, já estão em comunhão com Deus para obedecê-lo, têm o direito de apresentar seus filhos para serem batizados.
E mais, os pais crentes podem e devem apresentar seus filhos para o batismo. O apóstolo Pedro, em seu sermão no dia de Pentecostes, respondendo a uma indagação de seus ouvintes, declarou: — ... Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo ... Pois, a promessa é para vós e para vossos filhos... (Atos 2:38-39).
A Grande Comissão estabelecida por Jesus, em Mateus 28:10-20 e complementada em Marcos 16:16, não exclui as crianças uma vez que elas crêem. Neste sentido, quem o afirma é o próprio Jesus Cristo em Mateus 18:1-6 — Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? 2 E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. 3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. 4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus. 5 E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe. 6 Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.
A expressão no gregotransliterada se lê: — Ton mícron touton ton pisteuonton — e cuja tradução é: os pequeninos que crêem. Tal afirmação de Jesus é confirmada pelo evangelista Marcos no capítulo 9, verso 42, onde se lê: — Mas qualquer que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar.
Do acima exposto, verifica-se que não existe qualquer base bíblica, nem exegética, para se afirmar que esses pequeninos se referem às pessoas humildes, como querem alguns. Os pequeninos são, assim, de fato, as crianças das quais Jesus estava rodeado e das quais tomou uma como padrão do cidadão do Reino dos Céus. E, o mais importante é que Jesus afirmou que os pequeninos crêem.
Numa passagem bíblica relatada em João 4, um oficial do rei creu, ele e sua casa (v.53). Sabemos, pelo próprio relato, que naquela casa havia, pelo menos, uma criança pequena. O pai refere-se ao filho, no verso 49, empregando a palavra grega paidion — que significa criancinha. Logo, havia naquela família que creu, pelo menos, uma criança. E o texto afirma, também, que "creu ele e toda a sua casa", o que nos permite concluir que a criancinha também creu. Mas, como pode uma criancinha crer e ter fé? Respondemos a esta questão com uma pergunta: Como pode uma criancinha de peito apresentar um perfeito louvor a Deus? No entanto, em Mateus 21:16 Jesus afirma que tal criancinha O louva desta maneira, quando diz: — Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?
Ora, o Deus que tira o perfeito louvor dos lábios de uma criancinha de peito é capaz de suscitar fé no pequenino coração de uma criança. A fé é mais sentimento do que razão. E é isso que Paulo diz em Romanos 10:10 — Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.
A criança crê com o coração para a justiça e os seus lábios confessam o nome de Jesus num perfeito louvor. Nossos ouvidos é que são incircuncisos para ouvi-la.
Mas não é apenas isso. O batismo infantil é uma prática relatada nas Escrituras Sagradas. O costume de se receber crianças vem do AT, através do rito da circuncisão. Como exemplo, lemos em Gênese 21:4 — Abraão circuncidou a seu filho Isaque, quando este era de oito dias, segundo Deus lhe havia ordenado. — O próprio Jesus foi submetido a esse rito, conforme Lucas 2:21 — Completados oito dias para ser circuncidado o menino, deram-lhe o nome de JESUS, como lhe chamara o anjo, antes de ser concebido.
Como sabemos, a Igreja de Deus é uma só, em duas dispensações. A Igreja Cristã, por sua vez, é oriunda da Igreja Judaica, e não há como negar isso. Assim, esta era a Igreja de Deus naquele tempo. Observem-se as provas listadas abaixo:
1. Os crentes são filhos de Abraão – Em Gálatas 3:7, Paulo nos diz: — Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. — Assim, este verso explica porque Abraão é chamado de Pai da Fé, isto é, pai de todos os que crêem. E mais, em Romanos 4:16-17, o apóstolo reafirma que os crentes são filhos de Abraão, dizendo: — Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão, (porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem.
2. Jesus declarou em Mateus 8:11- Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. — Tomarão lugar onde? À mesa do banquete do Senhor, no Reino consumado de Deus. Esses que virão do Oriente e do Ocidente e se sentarão com os judeus são gentios, de tal forma que judeus e gentios, agora feitos cristãos, constituem-se em uma só família da qual Abraão é o cabeça humano.
3. A figura da oliveira – No capítulo 11 de Romanos, Paulo usa a figura da oliveira para representar o antigo povo de Deus e diz que os judeus incrédulos foram cortados da árvore, enquanto os gentios crentes foram nela enxertados. Assim, o antigo povo de Deus, juntamente com os gentios convertidos, constituíram-se numa árvore só.

Tais pontos doutrinários são prova suficiente de que a Igreja de Deus é uma só. Ora, as crianças faziam parte e eram membros da dispensação judaica. O rito pelo qual eram reconhecidas como membros, está claro, não era o batismo, mas. sim, a circuncisão. Por que? Por duas razões:
1º - A circuncisão era uma cerimônia sangrenta. O batismo é incruento. Todavia, desde que o sangue de Cristo, o sangue do Cordeiro de Deus, foi vertido, não se exige mais derramamento de sangue no culto divino.
2º - O batismo tomou o lugar da circuncisão porque pode, também, ser aplicado a ambos os sexos. Por sua natureza, a circuncisão só podia ser aplicada às crianças do sexo masculino.
Não bastasse isso, Colossenses 2:11-12 mostra que o batismo equivale à circuncisão — Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.

Assim, se a circuncisão era feita nas crianças do AT aos oito dias de nascidas; se a circuncisão equivale ao batismo cristão; fica cristalino que devemos batizar os menores em tenra idade.
Se não bastasse isso, a Bíblia nos mostra que famílias inteiras foram batizadas na era apostólica. Exemplos:
1. Cornélio com todos de sua casa - Atos 11:14 — o qual (referindo-se a Pedro) te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa.
2. Lídia e sua casa – Atos 16:15 — Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso.
3. O carcereiro com todos os seus - Atos 16:32-33 — E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir, foi ele batizado, e todos os seus.
4. A família de Estéfanas – I Coríntios 1:16 — Batizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se batizei algum outro.
5. Crispo e sua família - Atos 18:8 — Mas Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados.

Será que todas estas casas eram constituídas apenas de adultos?
Vejamos o significado de casa nas Escrituras:
1. Casa tem o sentido de família - (DT 25:9) então, sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará a sandália do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não quer edificar a casa de seu irmão.
2. Casa significa a família completa, constituída do pai, da mãe, dos filhos e do taph — no hebraico, membro de uma tribo nômade que não era capaz de caminhar, isto é, os velhos e as crianças. (2CR 20:13) — Todo o Judá estava em pé diante do SENHOR, como também as suas crianças, as suas mulheres e os seus filhos.
3. Casa significa, na Bíblia, a família, incluindo as criancinha. (GN 17:12, 23) — O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. - (23) Tomou, pois, Abraão a seu filho Ismael, e a todos os escravos nascidos em sua casa, e a todos os comprados por seu dinheiro, todo macho dentre os de sua casa, e lhes circuncidou a carne do prepúcio de cada um, naquele mesmo dia, como Deus lhe ordenara.

Além disso, existem inúmeras evidências históricas de batismos de crianças na era apostólica. A título de exemplo, verificamos que:
• Justino Mártir, escrevendo por volta do ano 150 d.C. faz menção a pessoas de seu relacionamento que contam com sessenta e setenta anos de idade e que haviam sido batizadas na infância. Não é necessário ser bom matemático para deduzir que tais batismos ocorreram antes do ano 100 d. C. e, portanto, dentro da era apostólica.
• No entorno do ano 185 d. C., Irineu, em seu "Segundo Livro Contra as Heresias", faz alusão ao batismo de infantes, de crianças e de pessoas idosas. Seu testemunho é especialmente valioso porque ele aprendera diretamente de Policarpo, o qual, por sua vez, fora discípulo do Apóstolo João, havendo, pois, ligação com o ensino apostólico.
• Igualmente, o grande pensador cristão Orígenes, cerca do ano 240 d. C., refere-se ao batismo de crianças como uma tradição ou ordem apostólica. Comentando a carta de Paulo aos Romanos, ele afirma: "Foi por esta razão que a igreja recebeu dos apóstolos a ordem de administrar o batismo às criancinhas, porque aqueles a quem foram confiados os mistérios divinos sabiam que existe em todas as pessoas a contaminação natural do pecado, o qual deve ser apagada pela água e pelo Espírito".
• Existe, também, prova de que o batismo de crianças era costume adotado pela igreja primitiva, quando se estuda a História do Cristianismo. No Concílio de Cartago, em 252 d.C. — cerca de 150 anos depois da era apostólica — um pastor da região rural, conhecido por Fido, perguntou ao Concílio se as crianças podiam ser batizadas antes do oitavo dia após o nascimento — mesmo prazo marcado para a circuncisão. Tal Concílio, constituído de sessenta e seis bispos e presidido por Cipriano, o Mártir, decidiu por unanimidade que as crianças podiam ser batizadas antes do oitavo dia. Ora, se o batismo fosse uma inovação, não seria provável que os sessenta e seis aprovassem tal novidade, sem qualquer voz de protesto.
• Por volta do ano 200 d.C., Tertuliano se opôs ao batismo infantil. Todavia, não o fez por julgá-lo antibíblico, ou contrário aos costumes apostólicos, mas, sim, porque acreditava no seu poder regenerador, capaz de apagar os pecados e o julgava, também, um remédio que só podia ser usado uma única vez. Assim, achou que não convinha usar tal remédio de maneira precipitada ou apressada. Se o "remédio" fosse usado logo, a pessoa ficaria sem ele para curar seus pecados futuros. Por razão semelhante, Tertuliano aconselhava aos moços e às viúvas jovens a adiar o seu batismo. Não se opôs, portanto, ao batismo infantil por princípios bíblicos, mas por conveniências relativas à sua maneira de pensar. Neste sentido, o testemunho de Tertuliano prova que no seu tempo as crianças eram batizadas e que ele se opôs por motivos errôneos e contrários à Bíblia.
Conclusão
Verifica-se, pois, que as evidências bíblicas e históricas a favor do batismo de crianças são muitas. No entanto, nós, os presbiterianos, legítimos representantes da fé reformada, desafiamos qualquer outra denominação a apresentar uma só prova bíblica de que o batismo infantil é condenado por Deus. Se a Bíblia Sagrada é, de fato, a nossa regra de fé e de prática, é por ela que devemos nos guiar, e não pela razão humana que é falha e, muitas vezes, tem sido orientada pelo maligno.
Assim, cientes dessas verdades, queridos irmãos, cumpramos o que prescreve a Palavra de Deus, consagrando os nossos filhos menores a Jesus. Tornemo-los participantes da igreja visível através do batismo cristão, posto que da igreja invisível eles já fazem parte, como nos ensina o próprio Jesus. Nesse primeiro passo, estamos cumprindo o que está em Provérbios 22:6 — Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.
Maceió, 25 de setembro de 2000
Pedro Corrêa Cabral


* Estes escritos foram baseados num folheto elaborado pelo Rev. Hercílio da Costa Araújo, Secretário Presbiterial do Presbitério de Sergipe, em janeiro de 1987, o qual foi reescrito, acrescentando-se outros dados julgados importantes.

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