25 de set. de 2007
Eva, a Mãe de Todos
“Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:13,14)
Eva significa “mãe da vida”, ou seja, “mãe de todos os que têm vida”. Eva personifica todo o feminino na raça humana. Nela está escondido, como num grão, ou semente, toda a graça e independência de uma mulher, sua suscetibilidade a Satanás, mas, também, sua disposição para a fé. Adão personifica todo o masculino, e em geral o humano. O mundo, hoje, zomba da “costela de Adão”, contudo, graças a esse relato, aparentemente absurdo, o crente mais simples da igreja de Deus entende a relação entre os homens e as mulheres melhor do que o mais profundo filósofo que medita sobre a base de seus preconceitos pessoais.
Eva foi criada de Adão. Adão deve ser considerado como a origem e a essência do qual ela apareceu. Todavia, isso não significa que Adão a fez. Ainda que ela tenha procedido dele, foi Deus quem a criou. Por esta razão, ela também, antes de aparecer sobre a terra, existia no pensamento de Deus. Deus a viu, e porque a viu, a criou. Eva é o produto desta criação divina.
Eva nunca foi uma criança, uma filha, ou uma jovem. No instante da criação, ela estava diante de Adão no Paraíso, resplandecente e em plena maturidade feminina. Era uma mulher completa, cujas perfeições não eram devidas à cultura, ou à tradição, mas eram o produto da criação divina. A mulher não tem, pois, motivo para se queixar de não ser um homem, porque ela, como ele, é o resultado da atividade divina. O pensamento de Deus está expresso em seu ser feminino. É verdade que Adão existiu primeiro. Ele foi seu cabeça e a raiz da qual ela procedeu. Porém Adão não era viável sem ela. Estava em necessidade, e ela era a ajuda de que necessitava. Deus a criou como uma ajuda para ele. Na realidade, a ajuda e o sustento devem ser mútuos.
Satanás viu, imediatamente, que Adão podia ser seduzido mais facilmente através de Eva. Satanás reconheceu sua amabilidade e graça, porém também sua fragilidade natural. Ele se deu conta que ela poderia ser tentada. “Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”, diz o apóstolo Paulo. A mulher representa a graça humana em alto grau. O belo na natureza lhe entusiasma mais do que ao homem. Sua sensibilidade é mais viva e impressionável pelo concreto e pelo o atrativo. Não é, instintivamente, menos santa ou mais pecadora. Entretanto, era mais suscetível à tentação, porque estava, constitucionalmente, menos adaptada para oferecer resistência do que ele. Porém, não transgrediu sozinha, mas arrastou Adão com ela, ao pecado. Em vez de perdê-la nas mãos de Satanás, Adão se deixou atrair a ele por causa dela. A transgressão de Eva consiste no “pecado com o qual fez Adão pecar”.
Por acusa dele, a felicidade de Eva durou muito pouco. Tropeçou em seu primeiro passo. Adão não lhe estendeu a mão para resguardá-la, mas se deixou arrastar com ela. Agora, tinha que abandonar este magnífico Paraíso para entrar num mundo de espinhos e abrolhos. A angústia que precede o dar à luz aos filhos afetou seu ser gravemente. Perdeu a confiança em si mesma, confiança que Deus lhe havia dado. Agora, estaria sujeita ao domínio de outro.
Não sabemos quanto tempo Eva viveu, mas é provável que tenha vivido centenas de anos. Seus dias devem ter sido tediosos e cansativos, ocasionalmente cheios de dor. Havia sido gloriosa um tempo e tinha vivo, durante um curto período somente, na formosura do Paraíso. Ao ver-se lançada num mundo em que nada tinha sido provido para a mulher, deve ter sido um contraste terrível. Eva foi apartada de sua herança. Sua plenitude feminina foi completamente devastada.
Contudo, no profundo da alma desta mulher, Deus semeou a semente de uma fé gloriosa e, por meio dessa fé, permitiu que se levantasse novamente um céu diante dela. A semente desta mulher tentada haveria de esmagar a cabeça do tentador. Eva concentrou toda sua alma nessa promessa. De fato, quando Caim nasceu, supôs que este filho já era a semente prometida e exclamou: “Alcancei do SENHOR um varão”. Pobre Eva! A desilusão que se seguiu a essa esperança, quando depois dos anos a terra absorveu o sangue de Abel, deve ter sido muito amarga.
Não obstante, depois de séculos, os anjos de Deus reconheceram a semente dessa mulher no Filho de Maria. O Filho de Maria também era o filho de Eva. Nosso privilégio consiste em que podemos reconhecer este Menino de Belém em sua Manjedoura. Então, talvez relutantes, mas com uma clara esperança, podemos lembrar de Eva. Pensando nela, no Menino e em nós, podemos dizer: Eva, a “Mãe de todos”.
Abraham Kuyper
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