Copyright © Primeirona
Design by Dzignine
19 de fev. de 2009

ESTÁ AMARRADO EM NOME DE JESUS!


Tenho ouvido muito a frase "Está amarrado em nome de Jesus!". E me pergunto: "De onde ele saiu?".
Tal idéia deve vir de Mateus 12.29 e Marcos 3.27. Os dois textos tratam do mesmo evento. Lucas 11.17-23 também narra o episódio, mas omite a declaração de Mateus e Marcos: "amarrar o valente". Convenhamos, a base é muito precária para estabelecer uma doutrina e uma prática tão revolucionárias.
Jesus havia feito uma série de curas, conforme Marcos. A que mais impressiona Mateus é a do endemoninhado cego e mudo. Era o cúmulo da desgraça: não ver e não falar, além de ter demônios. Jesus o curou. Sem ter o que dizer, os fariseus o acusaram de agir por Belzebu, divindade cananéia, cujo nome significa "Baal, o príncipe". Esta definição do nome Belzebu fica bem clara em Marcos 3.22. Para os fariseus, Jesus não estava agindo nem mesmo por um demônio conhecido, mas por divindades estrangeiras.
A resposta de Jesus, como sempre, é admirável. Se ele estivesse mancomunado com Satanás ou Belzebu (uma "divindade" pagã, para ele, é demoníaca) seria um caso de guerra civil. Satanás estaria contra Satanás. Seria uma casa dividida, e uma casa dividida não subsiste. Mas ele veio pelo Espírito de Deus e com ele irrompeu o reino de Deus (Mateus 12.28). Jesus entrou num mundo dominado pelo maligno (1 João 5.19) e estabeleceu seu reino. Ele veio para libertar os oprimidos do Diabo (Atos 10.38) e destruir as obras de Satanás (1 João 3.8). Veio ao terreno dominado pelo inimigo, adentrou seus domínios e abalou seu poder.
É aqui que surge a expressão "amarrar o valente" (Mateus 12.29 e Marcos 3.27). Jesus fez isso. Ele limitou o poder de Satanás. Mas atenção: em lugar algum a Bíblia diz que os crentes amarram Satanás. Isso foi obra de Jesus ao irromper na história com seu reino, abalando o poder do inimigo. Crentes não amarram Satanás. A Bíblia não traz um versículo sequer dizendo que com uma simples declaração conseguimos esta proeza. É muito simplismo e pretensão de algumas pessoas presumirem que suas palavras amarram Satanás.
Levanto algumas considerações para se meditar:
1) Por que o amarram em cada culto? Ou fica amarrado para sempre, ou alguém o solta! Quem o solta depois que ele é amarrado?
2) Se ele está amarrado, quem está agindo? É impossível deixar de reconhecer que ele está solto, agindo neste mundo.
3) Jesus estava sendo literal? Devemos tomar a expressão ao pé da letra e dar-lhe um sentido universal, aplicável a todos os crentes, num sentido que Jesus não deu? Ou Jesus estava usando uma linguagem figurada para dizer que não tinha ligação alguma com Satanás, que eram adversários e que ele tinha vindo para destruir o Maligno? O próprio Jesus, que veio para amarrá-lo, foi tentado por ele (Mateus 4.1-10 e 16.23). Paulo nos adverte que é contra ele e seus asseclas que temos que lutar (Efésios 6.12). E nos aconselha a nos aparelharmos para a luta (Efésios 6.13-18). O quadro é de luta e não deste simplismo de deixar o inimigo amarrado com uma palavra.
4) Qual é a base bíblica para esta afirmação? É isso que não consigo entender: como práticas que resvalam para doutrina são estabelecidas em nosso meio, apenas com tintura bíblica, mas sem embasamento? Afinal, Paulo nos aconselha a lutar contra ele, em vez de amarrá-lo. Tiago 4.8 e 1 Pedro 5.9 nos aconselham a resistir ao Diabo, em vez de amarrá-lo. Por que a Bíblia não deixa bem claro, se é possível isso, que o amarremos com uma frase de efeito?
5) Não será uma estratégia do próprio inimigo disseminar em nosso meio a idéia de sua fraqueza e de que é fácil vencê-lo? Não será seu interesse que os cristãos pensem que uma frase feita o impeça de agir e assim nos descuidemos de nossa vigilância?
Que o Senhor nos abençoe!
Rev. Ashbell Simonton Rédua

1 comentários:

Deixe aqui seu comentário!