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9 de jul. de 2007

Considerações no Livro do Profeta Isaías


Parte 14
Por outro lado, os últimos capítulos do Livro de Isaías, esses mesmos que são questionados, foram claramente aceitos por escritores do Novo Testamento e por seus contemporâneos. Como exemplos, pode-se citar Mateus, o qual em 3:3 de seu Evangelho diz — Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. — e João que em 12:38 diz — para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? (Is 53.1). Muitas outras passagens desse mesmo jaez poderiam ser mencionadas.
Poder-se-ia argumentar que a maior parte dos escritores do Novo Testamento era constituída de pessoas rudes, semi-analfabetas e de pobre senso crítico. Contudo, ainda assim, tem-se o testemunho do apóstolo Paulo, o qual era um homem culto, tendo sido criado “aos pés de Gamaliel” (At 22.3) e fora instruído sobre as Escrituras. Neste sentido, é quase certo que este apóstolo teria notícias, caso os judeus instruídos de seu tempo reconhecessem dois “Isaías”, ou se houvesse ocorrido a incorporação das profecias de um autor desconhecido, do período do exílio babilônico, nas do primeiro “Isaías”. Igualmente, o historiador Josefo era também alguém de considerável cultura e estava afeito às pesquisas. Entretanto, Josefo não faz qualquer citação de um segundo “Isaías”. Ao contrário, ele atribui a Isaías, o único, a composição das profecias a respeito de Ciro, assim dizendo:

“Isso era do conhecimento de Ciro pela leitura do livro onde Isaías havia escrito suas profecias; uma vez que esse profeta disse que Deus havia falado a ele numa visão: ‘Minha vontade é que Ciro, a quem eu designei para ser rei sobre muitas e grandes nações, mande de volta o meu povo para a sua própria terra, e reconstrua meu Templo’. Isso foi profetizado por Isaías cento e quarenta anos antes do Templo ser destruído”.

Pode-se ter, assim, um razoável grau de confiança, mesmo porque a tradição judaica afirma que o Livro de Isaías é um trabalho literário por inteiro, e não a reunião de diversas profecias de várias épocas, elaboradas por vários autores.
Ben Ezra, um autor que escreveu no século XII d.C., foi o primeiro crítico a sugerir que as profecias dos capítulos 40 a 66 podiam não ser do trabalho original de Isaías. Entretanto, é forçoso observar que, antes de Ezra e até o final do século XVIII, nenhuma sombra de dúvida foi levantada a esse respeito. O livro de Salmos, por exemplo, é conhecido por ser uma composição de vários autores. Igualmente, o livro de Provérbios é, declaradamente, uma composição de quatro coleções de escritos. Todavia, o Livro de Isaías sempre foi considerado pela maioria dos estudiosos, tanto os antigos como os atuais, como um trabalho contínuo de um único e mesmo autor.
Além disso, existem evidências internas que corroboram a assertiva acima. Tais evidências podem ser anunciadas em cinco pontos a saber:
1. A grandeza, a qualidade e a genialidade demonstrada pelo autor.
2. A semelhança da linguagem e da construção gramatical em toda extensão da obra.
3. A semelhança entre as idéias, entre as imagens e entre as figuras de retórica.
4. A semelhança em pequenas expressões que caracterizam o autor.
5. A correspondência, no que se refere à repetições, e, nos capítulos finais, a complementação de idéias que ficaram incompletas nos capítulos iniciais.

Cada um desses pontos são a seguir comentados, visando a uma argumentação mais consistente.
1. É universalmente aceito pelos críticos e estudiosos que a genialidade, a grandeza e a qualidade dos escritos reconhecidos como de Isaías é algo de extraordinário e transcendente, em relação a todos os demais escritores da Bíblia, e mesmo da história do mundo, visto que poucos possuíam tais atributos. Tal genialidade é reconhecida como uma qualidade singular, marcada por uma sublimidade e uma profusão de idéias novas, cujas forças variam e são autocontroladas, de forma a manter o discurso livre de expressões bombásticas ou extravagantes. Seguramente, a mesma genialidade, que aflora nos capítulos iniciais, está presente naqueles que são questionados, demonstrando a unidade de todo o trabalho. A sublimidade encontrada nos capítulos 52 e 53 acontece por todos os lados, sendo a mesma que aparece no capítulo 40, em 43:1-4 e em 63:1-6. Transcreve-se estas duas últimas passagens para que o leitor perceba tal sublimidade — Mas agora, assim diz o Senhor, que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. Porque eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate e a Etiópia e Sebá, por ti.Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e os povos, pela tua vida (43:1-4) — Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de vivas cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na plenitude da sua força? Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelho o traje, e as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo. Porque o dia da vingança me estava no coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. Olhei, e não havia quem me ajudasse, e admirei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu próprio braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve. Na minha ira, pisei os povos, no meu furor, embriaguei-os, derramando por terra o seu sangue (63:1-6).

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